Sintra

Bolo de Natal de Mem Martins
uma tradição desaparecida

A blogosfera tem sido um espaço privilegiado pela facilidade com que dá voz à opinião civil também pela quantidade de utilizadores de internet que abrange. Apesar de ser uma ferramenta dos tempos modernos, não é a primeira vez que faz emergir questões de relevo que são aproveitadas pelos meios de comunicação e que chegam também, assim, àqueles que não têm acesso à informação divulgada através da internet. O blogue intitulado “Algueirão – Mem Martins”* tem vindo a destacar-se ao denunciar, criticar e evidenciar vários aspectos da Vila que lhe dá nome, pela mão do seu autor, Hugo Nicolau. Foi nas “páginas” desse blogue que o JS encontrou um apontamento sobre uma tradição que, ao que tudo indica, se perdeu ao longo do tempo: o Bolo de Natal de Mem Martins. Extraída do livro Retratos, uma compilação de artigos publicados no próprio JS há mais de 25 anos por “Zé de Fanares” (pseudónimo de Luís Pedroso Miguel), a receita desse bolo parte de uma carta datada de 2 de Novembro de 1939, enviada pelo prof. Joaquim Fontes à Secção Etnográfica da Exposição do Mundo Português:

«Bolo de Natal: tem a forma de um pão saloio mas muito mais pequeno e faz-se, como o seu nome indica, pelo Natal. É produto de indústria caseira, não havendo, propriamente, um fabricante. »

Os ingredientes são simples: uma massa de farinha de trigo, açúcar, limão, canela, leite, envolvida em gema de ovo e manteiga para pincelar, ao sair do forno. Conta “Zé de Fanares” que os habitantes de Mem Martins comemoravam o Natal “muito à sua moda”. O prato principal era a galinha, cozida com enchidos e acompanhada de arroz e a sobremesa seria o bolo, que era “a sobremesa tradicional da quadra” quer nas mesas dos ricos, quer nas dos pobres. As mulheres atarefavam-se a confeccioná-lo havendo, inclusive, uma competição, cujo resultado era devidamente avaliado pelos seus homens.

Esse bolo, que hoje ficou na sombra do tão famoso e comercializado bolo-rei, era “muito apaladado” e tinha a virtude de durar até depois dos Reis: “diziam os entendidos que, quando bem fabricado, quanto mais duro mais saboroso”. O gosto provavelmente poucos o conhecem, já que, ao que parece, esse bolo de Natal de Mem Martins é uma tradição em extinção.

*que pode ser encontrado em algueirao-memmartins.blogspot.com

Vanessa Sena Sousa

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