“Todos os projectos ficavam adiados para mais tarde e as actividades resumiam-se a passeios em que iam sempre as mesmas pessoas, que estavam atentas aos cartazes que fomos colocando”, explicou o presidente da Junta de Freguesia de Rio de Mouro, Filipe Santos. “Era necessário criar um projecto com cabeça, tronco e membros”.
Surgiu assim, em Fevereiro deste ano, o “Criar Afectos”, que veio dar nome e estrutura às actividades que já se faziam, mas incentivando novas e variadas acções destinadas à população idosa. “A grande dificuldade são mesmo os afectos”, explicou o presidente, “as pessoas sentem-se discriminadas, sentem-se como um estorvo e há uma grande necessidade de diminuir o isolamento”.
No final do mês de Fevereiro o projecto contava com mais de 150 inscrições, que foram aumentando ao sabor da publicidade boca a boca. “Todas as semanas vem sempre mais alguém inscreverse”, referiu a coordenadora, Marisa Pereira. O balanço até agora é positivo e não é apenas o número de inscrições que o comprova: “há participantes que moravam na mesma rua e não se conheciam ou não se falavam. Agora, mesmo quando não participam em actividades do projecto, saem umas com as outras”, explicou a coordenadora.
Melhorar qualidade de vida na terceira idade
Acabar com o isolamento, através do contacto diário com os pares, e melhorar a qualidade de vida da terceira idade, que tem vindo a constituir uma camada cada vez maior na sociedade, são os principais objectivos. O projecto promove actividades semanais, como atelier de pintura, ponto de cruz e caminhadas, e actividades mensais como ciclos de cinema, passeios e idas ao teatro. “Não se trata só de passeios, mas sim de actividades físicas, lúdicas e de informação” que “incentivam o projecto e lhe dão razão para existir”, explicou o autarca de Rio de Mouro. “Hoje em dia não tenho dúvidas de que chegamos a muitos mais idosos”, referiu, salientando que em todas as acções os autocarros vão sempre cheios e que há sempre listas de espera para as actividades.
Todas as pessoas com mais de 60 anos são convidadas a participar, inclusive as que têm menos possibilidades, já que a maioria das actividades são gratuitas. Promovendo o convívio entre gerações, os participantes do “Criar Afectos” foram convidados a assistir a uma peça de teatro, no passado dia 18 de Junho, na escola E.B. 2,3 Padre Alberto Neto. “Os Lusíadas Contado Por Nós”, animou o palco da escola e também o público mais velho, que recuperou um pouco do espírito estudantil que há muito não sentia.
“Vamos voltar aos bancos da escola”, comentava, animado, um dos participantes, enquanto entrava na escola. Não são apenas pessoas solitárias que participam nas actividades. Exemplo disso é o casal Arnaldo Luz, de 79 anos, e Maria Luz, de 75 anos, que contam que tiveram ambos a ideia de participar no projecto e que consideram “o convívio muito bom”. “Não podia ser melhor, com estes jovens todos”, brinca Arnaldo, apontando para todos os seus convivas. Já Maria da Graça, de 65 anos, resolveu fazer-se acompanhar da mãe, Dália Tracana, de 89 anos. “Ela é a minha filha agora. Participamos juntas em tudo, nunca a deixo ficar”, comenta, bem-disposta. “Costumava andar na fisioterapia, mas desde que entrei para o projecto nunca mais precisei”, explicou. Tanto mãe como filha participam em quase todas as actividades semanais e mensais, inclusive as de ginástica. “Estou muito contente e quero continuar”, diz Dália. “A maioria dos que participam nas actividades semanais são da área urbana de Rio de Mouro”, ressaltou Marisa Pereira. “No entanto, alguns fazem parte das áreas mais rurais”. Exemplo disso é Maria José Santana, de 75 anos, que “mora longe”, mas vai “sempre sozinha de camioneta ou com os cunhados, que também participam no “Criar Afectos”.
Maria Alves, de 66 anos, vai a todas as actividades da Junta de Freguesia há sete anos. “Está cada vez melhor”, comenta. Para além de participante é também voluntária do Centro de Dia, onde dá apoio a pessoas acamadas. “Vou criando afectos noutros sítios”, explica. Ainda no mês de Junho decorreu a colónia de férias anual, integrada no projecto. Com cerca de uma centena de participantes, foi necessário dividir o grupo em dois turnos, que tiveram oportunidade de tomar banhos de sol, fazer ginástica e jogos na praia de S. Pedro do Estoril. O projecto promove também o convívio, através de visitas a entidades parceiras como a associação AFAPS, o Centro Comunitário de Rio de Mouro, o Centro Comunitário do Alto do Forte, os Reformados de Rio de Mouro, os Reformados da Tabaqueira e a Casa de Repouso dos Alfaiates. Esta alternativa às actividades rotineiras que costumam ocupar a terceira idade, como ver televisão ou conversar em bancos de jardim espalhados por Rio de Mouro, o “Criar Afectos” oferece actividades lúdicas, culturais e interessantes, como idas a museus, caminhadas pela vila, passeios a outras localidades entre outros. Leopoldina Lobo, de 63 anos e Maria Sousa, de 67 anos resumem o projecto de forma simples: “Convivemos e arranjamos muitos amigos”.
No próximo domingo, Dia dos Avós, serão realizadas diversas actividades comemorativas que prometem animar esta população de espírito jovem da freguesia, bem como os seus netos.
1 comentário:
Criar Afectos foi um projecto que surgiu da conversa de suas pessoas e da vontade de muitas outras. Uns quiseram proporcionar experiências diferentes, outros queriam que fosse proporcionado, no final nasceu este projecto.
Hoje temos um projecto sólido, dinâmico, que faz feliz muita gente… Faz feliz aqueles que ainda têm família, mas faz mais feliz aqueles que estão sozinhos e que encontraram neste projecto uma nova vida, vida que muitos deles já tinham perdido.
De todos os momentos que passamos juntos não consigo escolher um que tivesse sido marcante, porque todos foram, todos. Uns de uma maneira, outros de outra, todos foram singulares, profundos, felizes…
Os minutos, as horas, os dias em que partilhamos AFECTOS foram intensos e o que mais me deixa feliz é perceber que um bocadinho da minha atenção pode representar tanto para estas pessoas. Um olhar, um sorriso, um carinho uma coisa tão simples e que não custa nada, pode mudar o dia destas pessoas.
Lembro-me com muita saudade da nossa festa, lembro-me de tudo, de cada detalhe, também foi importante para mim… Foi importante por tudo, por ter conseguido que vivessem coisas que nunca tinham vivido e pela união que se viveu.
Agradeço a homenagem, as flores e os versos… Guardo tudo com carinho, tudo com muito amor. Aliás, vou guardar sempre no meu coração as coisas que vivemos.
Não posso deixar passar a oportunidade para agradecer à Vanessa pelo seu interesse no nosso projecto.
Obrigada, até Setembro!
Marisa Pereira
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