Crónica TV

Adeus, Manuela Moura Guedes

Estamos já a uma semana de distância mas, mesmo assim, o caso da suspensão do “Jornal Nacional de 6.ª”, da TVI, merece, apesar disso, algumas considerações. Em primeiro lugar temos as duas versões mais ou menos oficiais – em termos de vox populi. E segundo essas, das duas uma: ou foi o governo de José Sócrates que teve dedo na coisa, ou então foi a Prisa, proprietária da TVI. José Sócrates negou, a Prisa negou e tudo foi remetido para a administração da TVI em Lisboa. Bom: se um governo se intrometeu e teve a ver com a suspensão de um programa que o atacava é obviamente uma questão de censura. Se não foi esse o caso (e note-se que não existem provas acerca de nenhum dos agentes), estamos perante um caso em que a administração da Prisa, passando por cima da Direcção de Informação, o que é gravíssimo, suspendeu um programa. E, das duas, não sei qual é pior.

A verdade é que, em termos jornalísticos, puros e simples, o “JN6” era (sem me querer socorrer das palavras do primeiro-ministro), um arremedo de telejornal. A jornalista Manuela Moura Guedes tinha opiniões, o que um jornalista não deve ter, socorria-se de uma bengala que dá pelo nome de Vasco Pulido Valente para fazer coro consigo (veja-se o retrato que os Contemporâneos deles fizeram) e, no fundo, as pessoas viam aquele telejornal mais como um número de circo do que de um jornal informativo. O jornal das sextas, como já aqui foi dito por algumas vezes, era mais deformativo do que tudo o resto, do que o pretenso jornalismo de investigação que o anterior Director-Geral, José Eduardo Moniz, não por acaso casado com a acima citada Manuela Moura Guedes, nos quis fazer acreditar: investigação das antigas, das boas.

Depois surgiram as opiniões. A de Miguel Paes do Amaral, antigo patrão da TVI, que disse: ‘Era algo que se esperava que acontecesse há algum tempo. Aquele noticiário ultrapassava tudo o que era admissível. Já há muito tempo que era esperado que os accionistas tomassem uma decisão de suspender aquilo’. Bom. Para além das de Miguel Sousa Tavares, que achou que era uma ingerência de Madrid nas nossas coisas, o que me parece absurdo: tomara os espanhóis serem capazes de tomar conta das coisas deles. Também se dizia, à boca pequena (ou de outras dimensões) que era evidente que o “Jornal Nacional de 6.ª” tinha os dias contados a partir do momento em que José Eduardo Moniz saiu da TVI. Era apenas uma questão de tempo. O sururu, esse, aconteceria sempre.

Mas gostava de acrescentar uma pequena coisa: enquanto existiu, toda a gente dizia que o Jornal Nacional da TVI era uma vergonha e que deviam acabar com aquilo. E agora que aquilo acabou, toda a gente diz que é uma vergonha que aquilo tenha acabado. Vá lá a gente entender a população… Eu não sei, como diz o primeiro-ministro, se aquilo era uma “caça ao homem”: mas sei, pelos meus parâmetros de jornalista, que aquilo não era jornal nem era nada.

Há 10 anos escrevia
«Interessante de seguir, foi o embaraço evidente do embaixador dos Estados Unidos, quando colocado perante questões lógicas. Por exemplo: “Por que razão intervieram os Estados Unidos no Kosovo e não o fazem em Timor?” A resposta teve uma série de “well, you see...” pelo meio e o coitado não foi capaz de se explicar cabalmente. Como era natural, quando Washington não tem uma política definida quanto ao seu antigo aliado, nem o presidente dos “states” está, neste momento, a braços com nenhum escândalo sexual. Em contrapartida, quem se explicou (e bem) foi o nosso presidente Jorge Sampaio, numa entrevista à CNN. Quem o ouvisse pensaria que entre ele e Maria Ritta, o inglês é a língua utilizada domesticamente. Nada de hesitações, de voltar atrás, de se engasgar, de não ser capaz de explanar uma ideia de forma escorreita. Deu gosto vê-lo, mais uma vez, sem papas na língua: e tenho cá para mim que, com a lei marcial decretada, o papel de Sampaio não vai ficar por aqui.»

António Pessoa

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