Crime, devem ter pensado eles
A “PRAÇA DA ALEGRIA” era um programa sério. Por todas as razões: porque passa na televisão pública e não tem que se preocupar com audiências e guerras quejandas; porque isso, parecendo que não, é um desafogo sem nome; e também porque isso nos permite fazer coisas mais limpas, no sentido de que o não ter de ligar a essas guerras, nos dá logo um outro à-vontade. E a “Praça” era assim: permitia-se (ou dava-se ao luxo) de ter por lá convidados que seriam impensáveis no programa da manhã da SIC ou da TVI. E foram muitos, temos de o confessar. Só que, ultimamente, as coisas mudaram ligeiramente muitíssimo e sem que isso tenha melhorado grandemente as audiências, bem antes pelo contrário, e isso então não se percebe bem. É a velha história do vai-te lucro que me trazes perda.
VÁ-SE LÁ SABER PORQUÊ, alguém deve ter pensado que a “Praça” precisava de sangue ou, na ausência dele, que necessitava de trazer até à antena aqueles casos que a maioria das vezes se designam por “casos da vida”, muito possivelmente à falta de um nome que melhor se aplique e os defina realmente. Se não se puder ter lá o assassino confesso da própria mulher e de quase uma mão cheia de filhos, então ao menos que se fale do caso da criança que sofre horrores – como tem acontecido com a jovem Alexandra que continua na Rússia. Ou que se dê grande destaque aos recortes dos jornais especializados nestas tragédias, o que acontece amiúde. Ou que se tenham comentadores semanais, tão semanais como jocosos, como é o caso de Manuel Serrão, se não estou enganado às sextas-feiras, que ali vai contribuir para o embrutecimento da população. Acontece que não é esse o papel da televisão pública, antes pelo contrário. E não admira, portanto, que gente que fazia há anos um programa escorreito, não consiga agora corresponder a esta catadupa de sacos de hemácias e plaquetas, ou a este chorrilho de casos de jornais. Não sabem e as audiências descem. Não que isso seja preocupante para a televisão pública: mas parece-me sintomático.
E TEMOS, NO OUTRO extremo do espectro, e também na RTP, o “Portugal no Coração”. O programa conta, como se sabe, com a presença de Tânia Ribas de Oliveira e de um sempre enlouquecido João Baião, que até perturba o papel da colega. Passaram há pouco tempo a contar com a presença mais ou menos irregular (nunca sei a que dia aparece) de um Joaquim Monchique preparado para as maiores tropelias, na figura de uma avó de que não me lembro do nome. A loucura é total, como seria de esperar: e é ver Tânia Ribas de Oliveira a rir até às lágrimas e João Baião a deitar ainda mais achas para a fogueira. É um espacinho de cinco ou dez minutos que me levanta o ânimo para o resto do dia. E são tantos os trocadilhos e as graçolas, que à noite quero repeti-las e não me lembro nem de metade. E teve graça, um dia destes, Tânia Ribas de Oliveira aconselhar a “avó” a ir ver o espectáculo de Joaquim Monchique: para depois ouvir da avó qualquer coisa como “Oh filha, tu não estás boa! Ir agora perder o meu tempo! Eu nem gosto desse artista!”
HÁ 10 ANOS ESCREVIA
«Esperei uma semana pelo segundo episódio de “Não És Homem Não És Nada”, porque o primeiro me deixou com algumas dúvidas, isto é, aquilo podia tomar um caminho engraçado, mas também podia descambar muito rapidamente para o mais que péssimo. O primeiro episódio (e eles são curtos) foi gasto muito rapidamente para contar uma coisa complicada: que uma revista para homens foi um falhanço e que, por causa disso, foi transformada numa revista para mulheres; que a nova revista tem uma nova directora, mas que a redacção se mantém. Isto é, que os homens que trabalhavam na revista para homens, vão passar a trabalhar na revista para mulheres – e com pseudónimo feminino. É complicado contar tudo isto num episódio: por isso esperei pelo segundo. Porque ali faltavam ainda as relações entre as figuras em presença. Isso foi-nos revelado no segundo episódio, ou começou a ser. E percebemos que João Lagarto não se dá com Alexandra Lencastre, e vice-versa, embora esteja na cara como aqueles dois vão acabar. Em resumo: o segundo episódio teve muita graça, Alexandra Lencastre vai irritantemente bem, como se esperava dela e Lagarto faz-lhe a frente que se esperava, no seu papel de macho ofendido e espezinhado. Fiquei cliente.»
António Pessoa
A “PRAÇA DA ALEGRIA” era um programa sério. Por todas as razões: porque passa na televisão pública e não tem que se preocupar com audiências e guerras quejandas; porque isso, parecendo que não, é um desafogo sem nome; e também porque isso nos permite fazer coisas mais limpas, no sentido de que o não ter de ligar a essas guerras, nos dá logo um outro à-vontade. E a “Praça” era assim: permitia-se (ou dava-se ao luxo) de ter por lá convidados que seriam impensáveis no programa da manhã da SIC ou da TVI. E foram muitos, temos de o confessar. Só que, ultimamente, as coisas mudaram ligeiramente muitíssimo e sem que isso tenha melhorado grandemente as audiências, bem antes pelo contrário, e isso então não se percebe bem. É a velha história do vai-te lucro que me trazes perda.
VÁ-SE LÁ SABER PORQUÊ, alguém deve ter pensado que a “Praça” precisava de sangue ou, na ausência dele, que necessitava de trazer até à antena aqueles casos que a maioria das vezes se designam por “casos da vida”, muito possivelmente à falta de um nome que melhor se aplique e os defina realmente. Se não se puder ter lá o assassino confesso da própria mulher e de quase uma mão cheia de filhos, então ao menos que se fale do caso da criança que sofre horrores – como tem acontecido com a jovem Alexandra que continua na Rússia. Ou que se dê grande destaque aos recortes dos jornais especializados nestas tragédias, o que acontece amiúde. Ou que se tenham comentadores semanais, tão semanais como jocosos, como é o caso de Manuel Serrão, se não estou enganado às sextas-feiras, que ali vai contribuir para o embrutecimento da população. Acontece que não é esse o papel da televisão pública, antes pelo contrário. E não admira, portanto, que gente que fazia há anos um programa escorreito, não consiga agora corresponder a esta catadupa de sacos de hemácias e plaquetas, ou a este chorrilho de casos de jornais. Não sabem e as audiências descem. Não que isso seja preocupante para a televisão pública: mas parece-me sintomático.
E TEMOS, NO OUTRO extremo do espectro, e também na RTP, o “Portugal no Coração”. O programa conta, como se sabe, com a presença de Tânia Ribas de Oliveira e de um sempre enlouquecido João Baião, que até perturba o papel da colega. Passaram há pouco tempo a contar com a presença mais ou menos irregular (nunca sei a que dia aparece) de um Joaquim Monchique preparado para as maiores tropelias, na figura de uma avó de que não me lembro do nome. A loucura é total, como seria de esperar: e é ver Tânia Ribas de Oliveira a rir até às lágrimas e João Baião a deitar ainda mais achas para a fogueira. É um espacinho de cinco ou dez minutos que me levanta o ânimo para o resto do dia. E são tantos os trocadilhos e as graçolas, que à noite quero repeti-las e não me lembro nem de metade. E teve graça, um dia destes, Tânia Ribas de Oliveira aconselhar a “avó” a ir ver o espectáculo de Joaquim Monchique: para depois ouvir da avó qualquer coisa como “Oh filha, tu não estás boa! Ir agora perder o meu tempo! Eu nem gosto desse artista!”
HÁ 10 ANOS ESCREVIA
«Esperei uma semana pelo segundo episódio de “Não És Homem Não És Nada”, porque o primeiro me deixou com algumas dúvidas, isto é, aquilo podia tomar um caminho engraçado, mas também podia descambar muito rapidamente para o mais que péssimo. O primeiro episódio (e eles são curtos) foi gasto muito rapidamente para contar uma coisa complicada: que uma revista para homens foi um falhanço e que, por causa disso, foi transformada numa revista para mulheres; que a nova revista tem uma nova directora, mas que a redacção se mantém. Isto é, que os homens que trabalhavam na revista para homens, vão passar a trabalhar na revista para mulheres – e com pseudónimo feminino. É complicado contar tudo isto num episódio: por isso esperei pelo segundo. Porque ali faltavam ainda as relações entre as figuras em presença. Isso foi-nos revelado no segundo episódio, ou começou a ser. E percebemos que João Lagarto não se dá com Alexandra Lencastre, e vice-versa, embora esteja na cara como aqueles dois vão acabar. Em resumo: o segundo episódio teve muita graça, Alexandra Lencastre vai irritantemente bem, como se esperava dela e Lagarto faz-lhe a frente que se esperava, no seu papel de macho ofendido e espezinhado. Fiquei cliente.»
António Pessoa
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