Aldrabices e vendilhões do templo
ESTREOU NO DIA 2, quarta-feira, um novo programa semanal de humor da RTP, “O Que se Passou Foi Isto”, protagonizado por Luís Franco- Bastos (a nova coqueluche da imitação de vozes), Manuel Marques e Carla Salgueiro, realizado por Jorge Paixão da Costa e escrito por Joana Marques, Roberto Pereira e Susana Romana. Tudo se passa no “Ludgero’s Café”, que é o ponto de encontro para as três personagens: Fábio, um estafeta de vinte e poucos anos, Sónia, a dona de um quiosque e o próprio Ludgero, o proprietário do dito café. Nos (longos) intervalos dos respectivos serviços, é ali que se juntam para comentar os principais acontecimentos da actualidade. A sua verdadeira profissão, embora não remunerada, é a de comentadores de tudo o que se passa à sua volta. Eles são mais do que treinadores de bancada: são políticos de bancada, economistas de bancada, socialites de bancada – ou de balcão de café, melhor dizendo...
EM PORTUGAL, TODA A GENTE tem uma teoria acerca dos casos e polémicas que enchem os jornais. Todos têm um primo, uma cunhada, um conhecido que por sua vez conhece alguém que trabalha num lugar importante e que tem acesso a informação privilegiada. As três personagens desta série são exemplos acabados disto mesmo. Eles sabem tudo o que se passa nos meandros da sociedade portuguesa, e estão dispostos a prová-lo, mostrando a todos o que verdadeiramente se passou nos casos mais mediáticos da actualidade. E, como se está mesmo a ver, todas as conversas que nos conduzem ao “esclarecimento” da verdade, começam com a frase “O que se passou foi isto”. Coisa fraca, esta, que até parece ter sido uma ideia original de Nuno Artur Silva: a verdade é que nem todas as ideias correm sempre bem.
E ESTA COMEÇOU estranhamente, com uma espécie de “justificação” pela ausência de Bruno Nogueira, como se ele tivesse sido anunciado no elenco e, à última hora, não tivesse aparecido. Cena patética, só para mostrar os dotes de Luís Franco-Bastos – coisa completamente desnecessária, que todos já o ouvimos. Mas outra dúvida se me levanta: será que aquilo era mais do que isso? Será que aquilo queria dizer “enquanto não voltam ‘Os Contemporâneos’, aqui têm esta imitação”. Mas depois, também me interrogo: e era Bruno Nogueira a cara de “Os Contemporâneos”? Ou seria Nuno Lopes? Acho que há aqui uma confusão qualquer – e a opção é culpa de quem escreveu o episódio. Porque, para Luís Franco-Bastos, tanto fazia imitar um como o outro. Foi mesmo tiro no pé.
ESTA É, INFELIZMENTE, aquela época do ano em que a televisão (todas as televisões) gostam de brincar ao Natal e, consequentemente, à caridadezinha. E ele são programas uns atrás dos outros que apoiam esta instituição, aquela iniciativa, ou um qualquer outro projecto, eu sei lá! É pena que a televisão (todas as televisões) só se lembre disso nesta altura. Porque se torna terrivelmente maçador e porque se vê que os programas dessa natureza que passam na televisão (todas as televisões), só vêem a luz do ecrã porque são patrocinados por grandes grupos económicos que, ainda o ano passado, tinham como mascote uma avestruz com asas, naturalmente, e que este ano tem seios e braços, numa estranha simbiose de ave e Lara Croft. O Natal, já o citaram milhentas vezes, “é quando um homem quiser”: excepto os homens que têm, especialmente nesta altura, artigos alusivos à época para vender. Faz falta alguém que volte a escorraçar os vendilhões do templo. Porque o outro já tem 2009 anos e a coisa deve cansar.
HÁ 10 ANOS ESCREVIA
«Estava bom de ver que iríamos, nesta proximidade de final de ano (e, para muitos, de século e até de milénio) ser submersos por uma série de programas que se tentariam fazer o levantamento do que foi este século – ainda que incompleto. E ele há de tudo: temos “O Século das Descobertas”, na RTP 2, que nos falou, na passada segunda-feira, da descoberta da electricidade – coisa que, por acaso, aconteceu no século passado, mas não seja por isso: não fosse essa descoberta e praticamente nada do que acontece hoje em dia teria lugar. Nem sequer esta crónica, porque não haveria televisão; tivemos um programa de boas intenções, mas de péssima realização, que se debruçou sobre uma das “invenções” deste século, mas que terá efeitos no primeiro dia do próximo ano, o “bug” do ano 2000, que ninguém sabe que espécie de confusão poderá ocasionar.»
António Pessoa
ESTREOU NO DIA 2, quarta-feira, um novo programa semanal de humor da RTP, “O Que se Passou Foi Isto”, protagonizado por Luís Franco- Bastos (a nova coqueluche da imitação de vozes), Manuel Marques e Carla Salgueiro, realizado por Jorge Paixão da Costa e escrito por Joana Marques, Roberto Pereira e Susana Romana. Tudo se passa no “Ludgero’s Café”, que é o ponto de encontro para as três personagens: Fábio, um estafeta de vinte e poucos anos, Sónia, a dona de um quiosque e o próprio Ludgero, o proprietário do dito café. Nos (longos) intervalos dos respectivos serviços, é ali que se juntam para comentar os principais acontecimentos da actualidade. A sua verdadeira profissão, embora não remunerada, é a de comentadores de tudo o que se passa à sua volta. Eles são mais do que treinadores de bancada: são políticos de bancada, economistas de bancada, socialites de bancada – ou de balcão de café, melhor dizendo...
EM PORTUGAL, TODA A GENTE tem uma teoria acerca dos casos e polémicas que enchem os jornais. Todos têm um primo, uma cunhada, um conhecido que por sua vez conhece alguém que trabalha num lugar importante e que tem acesso a informação privilegiada. As três personagens desta série são exemplos acabados disto mesmo. Eles sabem tudo o que se passa nos meandros da sociedade portuguesa, e estão dispostos a prová-lo, mostrando a todos o que verdadeiramente se passou nos casos mais mediáticos da actualidade. E, como se está mesmo a ver, todas as conversas que nos conduzem ao “esclarecimento” da verdade, começam com a frase “O que se passou foi isto”. Coisa fraca, esta, que até parece ter sido uma ideia original de Nuno Artur Silva: a verdade é que nem todas as ideias correm sempre bem.
E ESTA COMEÇOU estranhamente, com uma espécie de “justificação” pela ausência de Bruno Nogueira, como se ele tivesse sido anunciado no elenco e, à última hora, não tivesse aparecido. Cena patética, só para mostrar os dotes de Luís Franco-Bastos – coisa completamente desnecessária, que todos já o ouvimos. Mas outra dúvida se me levanta: será que aquilo era mais do que isso? Será que aquilo queria dizer “enquanto não voltam ‘Os Contemporâneos’, aqui têm esta imitação”. Mas depois, também me interrogo: e era Bruno Nogueira a cara de “Os Contemporâneos”? Ou seria Nuno Lopes? Acho que há aqui uma confusão qualquer – e a opção é culpa de quem escreveu o episódio. Porque, para Luís Franco-Bastos, tanto fazia imitar um como o outro. Foi mesmo tiro no pé.
ESTA É, INFELIZMENTE, aquela época do ano em que a televisão (todas as televisões) gostam de brincar ao Natal e, consequentemente, à caridadezinha. E ele são programas uns atrás dos outros que apoiam esta instituição, aquela iniciativa, ou um qualquer outro projecto, eu sei lá! É pena que a televisão (todas as televisões) só se lembre disso nesta altura. Porque se torna terrivelmente maçador e porque se vê que os programas dessa natureza que passam na televisão (todas as televisões), só vêem a luz do ecrã porque são patrocinados por grandes grupos económicos que, ainda o ano passado, tinham como mascote uma avestruz com asas, naturalmente, e que este ano tem seios e braços, numa estranha simbiose de ave e Lara Croft. O Natal, já o citaram milhentas vezes, “é quando um homem quiser”: excepto os homens que têm, especialmente nesta altura, artigos alusivos à época para vender. Faz falta alguém que volte a escorraçar os vendilhões do templo. Porque o outro já tem 2009 anos e a coisa deve cansar.
HÁ 10 ANOS ESCREVIA
«Estava bom de ver que iríamos, nesta proximidade de final de ano (e, para muitos, de século e até de milénio) ser submersos por uma série de programas que se tentariam fazer o levantamento do que foi este século – ainda que incompleto. E ele há de tudo: temos “O Século das Descobertas”, na RTP 2, que nos falou, na passada segunda-feira, da descoberta da electricidade – coisa que, por acaso, aconteceu no século passado, mas não seja por isso: não fosse essa descoberta e praticamente nada do que acontece hoje em dia teria lugar. Nem sequer esta crónica, porque não haveria televisão; tivemos um programa de boas intenções, mas de péssima realização, que se debruçou sobre uma das “invenções” deste século, mas que terá efeitos no primeiro dia do próximo ano, o “bug” do ano 2000, que ninguém sabe que espécie de confusão poderá ocasionar.»
António Pessoa
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