Serra de Sintra / Volta do Duche


Nas fotos: A folha recortada é muito associada ao azevinho; O vasculho (gilbardeira) costuma ser confundido com o azevinho; O arbusto do vasculho pode atingir até 1 metro de altura


Plantas associadas ao Natal estão em risco

Azevinho*, gilbardeira** e mesmo os abetos, semelhantes ao pinheiro, são espécies que têm vindo a sucumbir ao consumismo típico da quadra natalícia. Podem ser vistos exemplares destas plantas na Volta do Duche, perto da Vila.

Sintra é conhecida pela sua enorme variedade de espécies naturais que muitas vezes se traduz em tantos tons de verde quantos se consegue distinguir. A Volta do Duche, conhecido caminho que leva ao centro da Vila é apenas uma amostra do que a Serra tem para oferecer. Uma amostra, no entanto, que apresenta plantas para todas as ocasiões do ano e acompanha os sintrenses ao mudar das estações e às principais celebrações, como é o caso do Natal.

Mais do que acompanhar, celebram com os habitantes, mesmo que isso passe despercebido. Terão reparado os transeuntes que há, na Volta, azevinhos? Aí talvez não, mas na Tapada do Mouco, a presença desta espécie em nada ajudou à sua preservação já que, de acordo com a representante da Associação de Defesa do Património de Sintra (ADPS), Adriana Jones, ao longo dos anos foram sendo arrancados até restarem somente tocos. Entretanto, enquanto se espera o Natal, as espécies femininas desta planta vão-nos presenteando com as bagas vermelhas que se conjugam com as folhas recortadas para formar aquele que é um dos típicos elementos decorativos desta quadra.


Nas fotos: Os exemplares fêmea do azevinho apresentam bagas vermelhas no Natal; Azevinho e ao fundo o abeto, árvore sósia do pinheiro


Para além desta planta há, no mesmo local, alguns exemplares de gilbardeira, familiarmente chamada de vasculho ou azevinho-menor. Apesar de poder atingir até 1 metro de altura, a maioria dos arbustos desta planta presentes naquele local são baixos e chegam a confundir-se com outras espécies como a pervinca, de flores lilases, ou com folhas caídas das árvores mais altas. Frequentemente utilizados, na tradição saloia, para fazer vassouras, a planta tem também conhecidas propriedades medicinais. Tanto o azevinho como a gilbardeira foram vítimas do consumismo da época natalícia e nem os pinheiros ou árvores semelhantes, com o abeto, escaparam ao desejo decorativo próprio do Natal dos novos tempos. No entanto, a ADPS encarregou-se de velar pela protecção de todo o património florestal, o que resultou num decreto-lei que proíbe o arranque e a venda pelo menos do azevinho (DL.423/89 de 4 de Dezembro), pelo menos para já.

NR: O Jornal de Sintra e a Associação de Defesa do Património de Sintra criaram o Correio da Árvore. Solicitamos aos leitoresque nos reportem sobre espécies naturais que estejam em risco para os endereços abaixo indicados. O Jornal de Sintra sugere ainda a ajuda na preservação do azevinho, gilbardeira, pinheiros e abetos ou outras espécies naturais em risco, através da sua plantação nos seus jardins, quintais e terrenos.

jornalsintra.redac@ mail.telepac.pt ou adpsintra@clix.pt



*Azevinho
Arbusto ou árvore que pode atingir até 20 metros de altura, cuja utilização é essencialmente ornamental, especialmente na época do Natal. A sua madeira, dura e densa, é também procurada para trabalhos de marcenaria. Os seus frutos, que mostram o seu esplendor de Outubro a Dezembro, são tóxicos. É a única espécie europeia da família das aquifoliaceas, uma repartição principalmente tropical. Adaptou-se às condições europeias, o que poderá explicar a forma típica das suas folhas – perenes, coriáceas e picantes. É chamada uma “árvore de sombra” e pode viver mais de 100 anos crescendo, no entanto, lentamente.


**Gilbardeira
Com uma fisionomia idêntica à do azevinho comum, este arbusto possui ramos semelhantes a folhas de aspecto espinhoso e produz frutos vermelhos. Prefere os locais frescos e sombrios, como a Volta do Duche. A sua raiz é utilizada como diurético e os rebentos jovens podem ser comestíveis, tal como os espargos. Por ser semelhante ao azevinho, sofreu com a sucessiva recolecção para arranjos natalícios. Antigamente, era utilizado para fazer vassouras - ao ligar o arbusto, já seco, a uma cana – especialmente para varrer o chão de terra batida, típico de casas saloias, ou mesmo fuligem e teias de aranha do tecto.






Texto e fotos: Vanessa Sena Sousa
js.vanessasenasousa@mail.telepac.pt

Sem comentários: