Conversa, mas sem ser da treta
Não se percebe bem por que razão a RTP teve a ideia – RTP é forma de dizer “alguém da RTP”, está bom de perceber – de fazer um programa sobre livros e escritores, para depois o colocar na RTP N. Isto é: quando tem uma excelente oportunidade de fazer serviço público, eis que passa o programa para um dos seus canais transmitidos apenas pelo cabo. É que não se trata de fazer um discorrer das últimas novidades em livro lançadas no mercado português: José Rodrigues dos Santos fala, em “Conversas de Escritores”, de livros com os seus autores, o que já não é coisa pouca, e ainda por cima parece escolhê-los a dedo. Se não, vejamos: estreou o seu programa com Ian McEwan, no princípio de Agosto (contra todas as regras, em pleno Verão), um escritor britânico, chamado por vezes de “Ian Macabro”, devido à natureza das suas primeiras obras, e que de romance a romance se tem convertido num dos mais conhecidos da sua geração. A fama tornou-se-lhe mais notória quando um livro seu, “Atonement/ Expiação”, foi adaptado para o cinema e foi candidato aos Óscares.
Como se esta estreia não fosse suficiente, o seu segundo convidado foi nada menos que Miguel Sousa Tavares, que ainda há bem pouco tempo teve o seu romance de maior sucesso, “Equador”, adaptado a uma série que a TVI transmitiu até há bem pouco tempo. Entrevista divertida, esta, a começar pelo facto de os dois escritores se terem começado por tratar por “tu” e, lá para meio, passarem a adoptar o “você” e, ainda mais para o fim da conversa, com aquela pergunta de José Rodrigues dos Santos, falando do caso do roubo do computador de Sousa Tavares, coisa que foi amplamente divulgada nos jornais, a perguntar-lhe se não tinha ouvido falar na teoria segundo a qual o ladrão do computador seria “uma pessoa de orelhas grandes”…
A terceira convidada foi Romana Petri, uma escritora que tem muito a ver com o nosso país, coisa a que não terão sido alheias as conversas com o escritor italiano António Tabucchi. Uma das regiões que mais apreciou nas suas visitas frequentes a Portugal (daí o seu português excelente) foi o arquipélago dos Açores, onde se inspirou para escrever “A Senhora dos Açores”, editado em Portugal em 2003. A ideia de escrever esta obra surgiu em 1996, quando estava na ilha do Pico para tentar encontrar inspiração para concluir Dagoberto Babilónio, un Destino (Dagoberto Babilónio, um Destino). A “Senhora dos Açores” é um livro inspirado nas experiências emocionais que viveu no Pico. Como se tem estado a ver, José Rodrigues dos Santos tem estado a fazer um trabalho que não desmereceria a RTP 1 – mas que, aparentemente, naquele cenário de concursos de dança, cantos e outras cabriolas, era capaz de parecer um pouco deslocado. Fez mal, a RTP: mas quem é que a vai convencer disso?
E já não falemos do (até agora) mais complicado de todos os convidados, o canadiano Hubert Reeves, o único homem que conheço (forma de dizer, claro está) cujo nome foi dado ao asteróide 9631… Um homem que se tem preocupado em explicar a ciência de forma alegre, que tem procurado explicar coisas que os físicos e os astrofísicos não conseguem. E todas essas coisas ele tem transportado para livros aparentemente acessíveis, claros, sem grandes palavrões tecnológicos ou científicos. Ciência para todos, poderíamos chamar à sua obra de cerca de uma vintena de volumes. E tudo isso tem estado ao nosso alcance, na RTP N, por volta das 21h30. É coisa a não perder. Para quem tenha televisão por cabo, naturalmente…
Há 10 anos escrevia
«Ausente anda também, por uma ou duas semanas, a série “Pretender”. Só que a TVI, nestas coisas, não está com meias medidas e nem se preocupa em arranjar um substituto: pega em dois episódios da série “Ficheiros Secretos” e anuncia-os como um “especial”. Não era bem isso, está bom de ver: a TVI limitou-se a saltar a ordem dos episódios (deixou de fora “Tithonus”) e exibiu dois episódios que eram a continuação um do outro. Esqueceu-se de fazer intervalo entre os dois, num ponto de suspense que os responsáveis da série não criaram por acaso. Esperemos que depois destes “Two Fathers” e “One Son” a série regresse à sua ordem normal. Ou será que para a semana também vamos ter... “um especial”?»
António Pessoa
Não se percebe bem por que razão a RTP teve a ideia – RTP é forma de dizer “alguém da RTP”, está bom de perceber – de fazer um programa sobre livros e escritores, para depois o colocar na RTP N. Isto é: quando tem uma excelente oportunidade de fazer serviço público, eis que passa o programa para um dos seus canais transmitidos apenas pelo cabo. É que não se trata de fazer um discorrer das últimas novidades em livro lançadas no mercado português: José Rodrigues dos Santos fala, em “Conversas de Escritores”, de livros com os seus autores, o que já não é coisa pouca, e ainda por cima parece escolhê-los a dedo. Se não, vejamos: estreou o seu programa com Ian McEwan, no princípio de Agosto (contra todas as regras, em pleno Verão), um escritor britânico, chamado por vezes de “Ian Macabro”, devido à natureza das suas primeiras obras, e que de romance a romance se tem convertido num dos mais conhecidos da sua geração. A fama tornou-se-lhe mais notória quando um livro seu, “Atonement/ Expiação”, foi adaptado para o cinema e foi candidato aos Óscares.
Como se esta estreia não fosse suficiente, o seu segundo convidado foi nada menos que Miguel Sousa Tavares, que ainda há bem pouco tempo teve o seu romance de maior sucesso, “Equador”, adaptado a uma série que a TVI transmitiu até há bem pouco tempo. Entrevista divertida, esta, a começar pelo facto de os dois escritores se terem começado por tratar por “tu” e, lá para meio, passarem a adoptar o “você” e, ainda mais para o fim da conversa, com aquela pergunta de José Rodrigues dos Santos, falando do caso do roubo do computador de Sousa Tavares, coisa que foi amplamente divulgada nos jornais, a perguntar-lhe se não tinha ouvido falar na teoria segundo a qual o ladrão do computador seria “uma pessoa de orelhas grandes”…
A terceira convidada foi Romana Petri, uma escritora que tem muito a ver com o nosso país, coisa a que não terão sido alheias as conversas com o escritor italiano António Tabucchi. Uma das regiões que mais apreciou nas suas visitas frequentes a Portugal (daí o seu português excelente) foi o arquipélago dos Açores, onde se inspirou para escrever “A Senhora dos Açores”, editado em Portugal em 2003. A ideia de escrever esta obra surgiu em 1996, quando estava na ilha do Pico para tentar encontrar inspiração para concluir Dagoberto Babilónio, un Destino (Dagoberto Babilónio, um Destino). A “Senhora dos Açores” é um livro inspirado nas experiências emocionais que viveu no Pico. Como se tem estado a ver, José Rodrigues dos Santos tem estado a fazer um trabalho que não desmereceria a RTP 1 – mas que, aparentemente, naquele cenário de concursos de dança, cantos e outras cabriolas, era capaz de parecer um pouco deslocado. Fez mal, a RTP: mas quem é que a vai convencer disso?
E já não falemos do (até agora) mais complicado de todos os convidados, o canadiano Hubert Reeves, o único homem que conheço (forma de dizer, claro está) cujo nome foi dado ao asteróide 9631… Um homem que se tem preocupado em explicar a ciência de forma alegre, que tem procurado explicar coisas que os físicos e os astrofísicos não conseguem. E todas essas coisas ele tem transportado para livros aparentemente acessíveis, claros, sem grandes palavrões tecnológicos ou científicos. Ciência para todos, poderíamos chamar à sua obra de cerca de uma vintena de volumes. E tudo isso tem estado ao nosso alcance, na RTP N, por volta das 21h30. É coisa a não perder. Para quem tenha televisão por cabo, naturalmente…
Há 10 anos escrevia
«Ausente anda também, por uma ou duas semanas, a série “Pretender”. Só que a TVI, nestas coisas, não está com meias medidas e nem se preocupa em arranjar um substituto: pega em dois episódios da série “Ficheiros Secretos” e anuncia-os como um “especial”. Não era bem isso, está bom de ver: a TVI limitou-se a saltar a ordem dos episódios (deixou de fora “Tithonus”) e exibiu dois episódios que eram a continuação um do outro. Esqueceu-se de fazer intervalo entre os dois, num ponto de suspense que os responsáveis da série não criaram por acaso. Esperemos que depois destes “Two Fathers” e “One Son” a série regresse à sua ordem normal. Ou será que para a semana também vamos ter... “um especial”?»
António Pessoa
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