Agualva - Cacém

Jardim-de-infância construído pelo Polis com sinais de degradação

O programa Polis termina no final de Dezembro depois de oito anos de existência, mas deixa obras por fazer e sinais de degradação no edifício mais emblemático do projecto com apenas três anos.


Quem passeia na zona verde junto à ribeira das Jardas, em Agualva, depara com sinais preocupantes de degradação no único edifício que a sociedade Cacém Polis construiu na nova baixa da cidade e que custou um milhão e cem mil euros. Apesar de ter apenas três anos, o edifício premiado do Jardim-de-infância Popular (JIP) tem parte das grandes janelas rachadas e começa a revelar problemas no revestimento da fachada sul.


O edifício premiado do JIP tem parte das grandes janelas rachadas e problemas no revestimento da fachada sul

“A empresa que colocou os vidros garante que não há perigo, mas os pais questionam porque é que há várias janelas rachadas e nós tememos o eventual efeito de ventos fortes ou de um sismo, porque são vidros muito grandes”, explica Tânia Ferreira, directora pedagógica da instituição que recebe diariamente 160 crianças até aos nove anos. “Em teoria não caem, nem podem ferir, mas já temos dois locais onde se sentem as falhas e para prevenir tapámos com fita-cola”, conta.

No exterior, são as placas de fibrocimento que apresentam sinais de degradação. “Há dias caiu um pedaço de ‘viroc’ no passadiço de acesso ao jardim, mas não acertou em ninguém”, revela a técnica. O material é uma mistura de cimento e madeira que cobre toda a fachada sul virada para a zona de recreio. Mas os problemas de conservação datam desde o primeiro ano de funcionamento, 2006, em que o JIP passou a funcionar no local “sem direito a inauguração oficial”, lamenta a directora Leonor Vieira.

“Ao fim de um ano foi preciso trocar os vidros todos e pouco depois já havia outros problemas, pelo que solicitámos ao dono da obra, a Cacém Polis, que mandasse cá o empreiteiro. Há um ano fizeram as primeiras reparações mas foram embora e deixaram o trabalho a meio”, conta a presidente da direcção.

Quem também lamenta a situação é Nadir Bonaccorso, um dos autores do projecto. “Encaro o problema com tristeza, porque no início foram colocados os vidros errados, talvez por falta de atenção, e o empreiteiro foi obrigado a substituí-los todos. Agora, surgiram as fissuras, que podem dever-se a defeito de fabrico ou má aplicação”, revela o arquitecto, que considera a situação “dolorosa”, porque o edifício bioclimático deveria funcionar como uma montra de tecnologias.

Em 2006 o JIP recebeu a menção especial do prémio internacional de arquitectura sustentável Fassa Bartolo, da Universidade de Ferrara, em Itália, razão pela qual é por vezes visitado por estudantes de arquitectura. “Os últimos vinham dos EUA e tivemos de lhes explicar que o prémio era de arquitectura e não de construção”, ironiza Tânia Ferreira.

Segundo o arquitecto, “a empresa que forneceu o revestimento exterior está a planear substituir as placas danificadas pela má aplicação, porque o edifício também é emblemático para eles”, revela. Quanto às restantes reparações, “cabe ao dono da obra solicitar ao empreiteiro e se este não cumprir fazer uso da garantia bancária”, diz Nadir Bonaccorso. Relativamente aos vidros rachados, “não há perigo nenhum, porque apesar do tamanho [da altura de cada piso] são construídos para não estilhaçar”, assegura.

No entanto, qualquer operação de substituição irá implicar o encerramento do JIP durante alguns dias e um encargo financeiro razoável. “Só os vidros custavam cerca de 150 euros por metro quadrado em 2004, mas é preciso contabilizar também a colocação e o aluguer de gruas”, lembra. Entretanto, a direcção do JIP alertou a Câmara de Sintra, em vez da Cacém Polis, porque sabe que a Sociedade está em liquidação e que todas as responsabilidades vão passar para a autarquia. “O vice-presidente respondeu no final de Setembro que a responsabilidade é da Cacém Polis, mas diz ter conhecimento que o empreiteiro irá iniciar as reparações restantes, embora não adiante prazos”, conta Leonor Vieira.

O autarca não quis adiantar mais informação ao JS, mas fonte da Cacém Polis admite que a sociedade “tem conhecimento das anomalias e já notificou o empreiteiro para que sejam corrigidas ao abrigo da garantia da empreitada”. A mesma fonte revela ainda que “está em curso a transição” da responsabilidade sobre o edifício para a Câmara de Sintra, embora também não adiante prazos.

Polis Cacém extinto em Dezembro com obras por fazer
Em 2001, a conclusão do Polis Cacém chegou a ser anunciada para Maio de 2006, mas os trabalhos só arrancaram em Maio de 2004 e este prazo foi sendo adiado. Actualmente apenas se conhece a data de extinção da Sociedade Cacém Polis, a 30 de Dezembro próximo. Após um investimento que ultrapassa os 120 milhões de euros, as obras por fazer e os bens do Polis passarão para o accionista minoritário, a Câmara de Sintra, que detém 40 por cento do capital da sociedade. No papel continuam o novo edifício de serviços da “Nova Baixa” e o Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental. Está também por acabar a passagem inferior sob a linha de Sintra, junto à Avenida dos Missionários, cujas obras foram abandonadas há mais de um ano, mas neste caso a Câmara de Sintra já negociou a conclusão do túnel com a Refer, empresa que até 2012 está a construir ali perto a nova estação ferroviária da cidade. Nos últimos anos, a autarquia recepcionou as obras concluídas, como os Parques Lineares e Urbano, duas das zonas verdes recuperadas pelo Polis. Mas o edifício do JIP, apesar de concluído há três anos, continua na posse da Cacém Polis, que mantém um contrato de cedência com a instituição de solidariedade social que gere o jardim-de-infância.

texto e fotos: Luís Galrão

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