Alto do Carenque, Mercês e Meleças




Conduta adutora vê negado o a
poio comunitário do QREN


Foi apresentada, no dia 23 de Setembro, a primeira fase da empreitada do Sistema Adutor Principal – Conduta Adutora entre os reservatórios do Alto do Carenque e o das Mercês. Apesar de esta ser uma obra importante, uma vez que assegura o abastecimento de água para todo o concelho, o apoio comunitário foi-lhe negado. No entanto, a segunda fase prosseguirá com ou sem este apoio.



A primeira fase da empreitada do Sistema Adutor Principal, que liga os reservatórios do Alto do Carenque e o das Mercês, foi dada como concluída um ano após o início das obras e apresentada publicamente no dia 23 de Setembro. Os quatro quilómetros de conduta, entre a Ribeira da Carregueira e Meleças, representam um investimento de quase quatro milhões e meio de euros e fazem parte de um total de 10 quilómetros de obra, que têm como objectivo melhorar a qualidade de abastecimento de água no concelho.

A cerimónia foi conduzida pelo presidente da Câmara Municipal de Sintra, Fernando Seara e pelo presidente do conselho administrativo e pelo vogal dos SMAS, Baptista Alves e Cardoso Martins, respectivamente. Esta nova conduta será uma forma de acabar com as “enormes perdas de água associadas à velha conduta, estimadas em um a 1,5 milhões de metros cúbicos por ano” e com os “elevadíssimos custos de manutenção”, bem como garantir um “sistema mais seguro e fiável, mais amigo do ambiente e mais eficiente”, segundo Baptista Alves.

As principais dificuldades da obra foram a interligação com a conduta já existente, desgastada pelo tempo, e a compatibilização com os trabalhos em curso no IC16 e IC30. As preocupações consistiram nas possíveis falhas no abastecimento da rede e nos terrenos privados em redor da obra.

Terminada a primeira fase, a segunda, que abrange seis quilómetros entre a Ribeira da Carregueira e o Alto do Carenque, prosseguirá a partir do próximo ano e terá um prazo previsto de 12 meses.

Conduta prossegue mesmo sem apoio comunitário
Os SMAS de Sintra e a própria autarquia demonstraram a sua indignação pela decisão da estrutura nacional do QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional) de não aprovar a candidatura do projecto, que permitiria que a obra fosse financiada em 70% por fundos comunitários. Assim sendo, o conselho de administração dos SMAS interpôs uma providência cautelar contra a rejeição, esperando “que seja feita justiça”, como o explicou Baptista Alves.

A intervenção na conduta, considerada “inadiável”, foi financiada com “verbas próprias”, declarou o responsável, sublinhando o “esforço financeiro” a que os SMAS ficaram sujeitos numa obra que, não sendo feita, poderia “deixar 500 mil pessoas sem água de um momento para o outro”.

O presidente da Câmara, Fernando Seara, foi mais longe: “as regras para o apoio comunitário foram alteradas desde o momento em que apresentámos a candidatura até ao momento em que foi ponderada e apreciada” e “as regras foram alteradas para que esta obra não fosse objecto de aprovação por parte da estrutura nacional do QREN”, ressaltou. De facto, de acordo com o autarca, o que a Câmara Municipal, em conjunto com o conselho de administração da EPAL, fez foi “assumir uma responsabilidade de Estado”. No próximo ano, “vamos à segunda parte da obra, porque Sintra assim o exige”, rematou.

Uma conduta com história
A história foi o prato forte no discurso dos SMAS, representados por Cardoso Martins. De acordo com registos, Francisco de Holanda, que viveu na zona de Camarões, no concelho, terá apresentado ao rei D. Sebastião, por volta de 1570, uma proposta de criação de um sistema de abastecimento de água à cidade de Lisboa, sugerindo que se aproveitasse os vestígios de um antigo aqueduto romano. Terá sido aí que nasceu a ideia de aproveitar as águas do Vale da Ribeira de Carenque, hoje e na altura localizado em Belas, para abastecer a capital. O troço da conduta concluído no dia 23 de Setembro foi instalado paralelamente aos vestígios dessa velha conduta.

Em 1620, como referiu o vogal dos SMAS, o rei D. Filipe II lançou um imposto “real da água” sobre a carne e o vinho, para financiar o sistema de abastecimento de água à capital. O dinheiro, contudo, não foi utilizado para esse fim e em 1728, foi lançado um novo imposto sobre alguns produtos alimentares para financiar o conhecido Aqueduto das Águas Livres, que contribuiu para que Lisboa, 20 anos depois, passasse a ter 1300 metros cúbicos de água por dia, um terço do actual volume por hora.

O responsável sublinhou que não foi lançado nenhum imposto para realizar esta obra, já que “os tempos são outros, são os tempos do QREN” e que o Aqueduto das Águas Livres funcionou por cerca de 250 anos, suportando inclusive terramotos, da mesma forma que a sucessora da Companhia das Águas Livres de Lisboa, a EPAL, “forneceu água a Sintra através uma conduta adutora DN 1000 em betão pré-esforçado, cerca de 30 anos”. Contudo, “os tempos pressionaram de tal forma a velha conduta” que foram necessárias intervenções que continuarão, numa segunda fase, no próximo ano.


texto e fotos: Vanessa Sena Sousa

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