Por uma vez, desde há muitos anos, que as eleições não tinham um pingo de emoção. Desta vez, no entanto, e ao contrário de eleições anteriores em que a barraquinha já estava arrumada às 10 da noite, foi preciso esperar mais um pouco. Curiosamente, não para se saber quem ganhava, mas… para se saber quem era a terceira força política. Tirando essa animação (relativa) a coisa foi rigorosamente a mesma: todos ganharam (excepto o PSD), todos tiveram mais votos (excepto o PSD), todos tinham motivos para estar contentes. Tudo isto me parece deprimente, repetitivo, constante, e sem significado. Acho que eleições como as que temos não dão luta, pronto.
Também me pareceu deprimente o discurso de Cavaco Silva, que se decidiu a dizer uma (várias) palavra sobre o caso das escutas. Achei notável o seu sentido de timing – tinha dito que não falava antes das eleições e cumpriu – mas teria sido bem melhor se tivesse sido mais claro. Ele, que se afirma e assume como Presidente de todos os portugueses, era bom que falasse de forma a que todos os portugueses o entendessem. A alguma aldeia de Trás-os-Montes devem ter chegado ecos desta coisa das escutas: o discurso do Presidente elucidou-os? Não creio. Deixou-os numa transomontidade ainda mais profunda. O que se queria, caso fosse essa a circunstância, era que ele dissesse, ou negasse, aquilo que era básico: o governo escuta a presidência ou não? Não se percebeu. Nem aqui, nem em Trás-os-Montes, nem tão-pouco no Alentejo e no Algarve. Paciência: se calhar era isso mesmo que o Presidente queria. Que não se percebesse.
Quem se tramou um bocadinho com isto tudo, foram os Gato Fedorento. Tiveram ali uma semana ou duas em que puderam ter como convidados os líderes partidários e algumas segundas figuras, não se percebe bem por que ordem, e agora terão que se contentar com os candidatos às câmaras: tivemos Costa, o do castelo, que é como quem diz o de Lisboa, teremos Lopes, teremos talvez Isaltino. Isto é, uma segunda parte em decrescendo, que isto do poder local – parece-me – ainda diz menos às pessoas do que as eleições legislativas. Julgo que as pessoas pretendem que os poderes corram da forma mais discreta possível e isto de as fazerem votar daqui a 15 dias é coisa que não lhes entra na cabeça: pois se estiveram lá agora, que sentido faz voltarem a gastar dinheiro em transportes e maçadas para lá tornarem?
Fiquei entusiasmado com a apresentação da nova grelha da RTP1, sobretudo com aquela parte em que nos disseram que vamos ter AINDA mais concursos, um dos quais vai ser de patinagem no gelo, essa modalidade que tanto tem a ver connosco e com o nosso país onde, reza a publicidade turística, o Sol brilha aí uns 330 dias por ano. Não será maravilhoso nem terá a ver com a nossa realidade, mas ao menos vem justificar aqueles emigrantes que aqui construíram os seus chalés ao melhor estilo suíço, com os telhados num ângulo estranhíssimo, para se defenderem da queda abundante de neve. Portanto, não será um concurso que nos alegre, mas antes um outro que justifique os atentados urbanísticos. Parece-me lindo. Nem vou ver, fiquem desde já sabendo.
Há 10 anos escrevia
«Ele há coisas, como sabem, que não me entram na cabeça e que, mesmo que mas explicassem como se eu tivesse quatro anos – como dizia Denzel Washington, com muita graça, no filme Filadélfia – certamente continuaria a não as entender. Refiro-me aos debates a dois que a SIC promoveu e que, às tantas, lá teve frente a frente Paulo Portas pelo PP, e Durão Barroso pelo PSD. Dados os quadrantes políticos dos dois, seria de esperar que se sentassem, dessem grandes palmadas nas costas um do outro e zás!, assestassem as suas armas contra o inimigo comum – pelo menos nesta altura de campanha – o Partido Socialista. No entanto, não foi nada disso que vimos. Aquilo a que assistimos foi uma luta quase feroz entre os dois, com constantes “o senhor doutor fartou-se de dizer que...”, e “o senhor quando era ministro, acontecia...”, ou “ah!, mas não se esqueça do que escreveu quando era director do Independente...” Nesta altura, Paulo Portas teve um remoque que lembrava a Barroso o seu passado de perigoso esquerdista...»
António Pessoa
Também me pareceu deprimente o discurso de Cavaco Silva, que se decidiu a dizer uma (várias) palavra sobre o caso das escutas. Achei notável o seu sentido de timing – tinha dito que não falava antes das eleições e cumpriu – mas teria sido bem melhor se tivesse sido mais claro. Ele, que se afirma e assume como Presidente de todos os portugueses, era bom que falasse de forma a que todos os portugueses o entendessem. A alguma aldeia de Trás-os-Montes devem ter chegado ecos desta coisa das escutas: o discurso do Presidente elucidou-os? Não creio. Deixou-os numa transomontidade ainda mais profunda. O que se queria, caso fosse essa a circunstância, era que ele dissesse, ou negasse, aquilo que era básico: o governo escuta a presidência ou não? Não se percebeu. Nem aqui, nem em Trás-os-Montes, nem tão-pouco no Alentejo e no Algarve. Paciência: se calhar era isso mesmo que o Presidente queria. Que não se percebesse.
Quem se tramou um bocadinho com isto tudo, foram os Gato Fedorento. Tiveram ali uma semana ou duas em que puderam ter como convidados os líderes partidários e algumas segundas figuras, não se percebe bem por que ordem, e agora terão que se contentar com os candidatos às câmaras: tivemos Costa, o do castelo, que é como quem diz o de Lisboa, teremos Lopes, teremos talvez Isaltino. Isto é, uma segunda parte em decrescendo, que isto do poder local – parece-me – ainda diz menos às pessoas do que as eleições legislativas. Julgo que as pessoas pretendem que os poderes corram da forma mais discreta possível e isto de as fazerem votar daqui a 15 dias é coisa que não lhes entra na cabeça: pois se estiveram lá agora, que sentido faz voltarem a gastar dinheiro em transportes e maçadas para lá tornarem?
Fiquei entusiasmado com a apresentação da nova grelha da RTP1, sobretudo com aquela parte em que nos disseram que vamos ter AINDA mais concursos, um dos quais vai ser de patinagem no gelo, essa modalidade que tanto tem a ver connosco e com o nosso país onde, reza a publicidade turística, o Sol brilha aí uns 330 dias por ano. Não será maravilhoso nem terá a ver com a nossa realidade, mas ao menos vem justificar aqueles emigrantes que aqui construíram os seus chalés ao melhor estilo suíço, com os telhados num ângulo estranhíssimo, para se defenderem da queda abundante de neve. Portanto, não será um concurso que nos alegre, mas antes um outro que justifique os atentados urbanísticos. Parece-me lindo. Nem vou ver, fiquem desde já sabendo.
Há 10 anos escrevia
«Ele há coisas, como sabem, que não me entram na cabeça e que, mesmo que mas explicassem como se eu tivesse quatro anos – como dizia Denzel Washington, com muita graça, no filme Filadélfia – certamente continuaria a não as entender. Refiro-me aos debates a dois que a SIC promoveu e que, às tantas, lá teve frente a frente Paulo Portas pelo PP, e Durão Barroso pelo PSD. Dados os quadrantes políticos dos dois, seria de esperar que se sentassem, dessem grandes palmadas nas costas um do outro e zás!, assestassem as suas armas contra o inimigo comum – pelo menos nesta altura de campanha – o Partido Socialista. No entanto, não foi nada disso que vimos. Aquilo a que assistimos foi uma luta quase feroz entre os dois, com constantes “o senhor doutor fartou-se de dizer que...”, e “o senhor quando era ministro, acontecia...”, ou “ah!, mas não se esqueça do que escreveu quando era director do Independente...” Nesta altura, Paulo Portas teve um remoque que lembrava a Barroso o seu passado de perigoso esquerdista...»
António Pessoa
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