S. João das Lampas - Autárquicas 2009


São João das Lampas
É a maior freguesia de Sintra em área e está localizada no litoral, pelo que possui praias com grande procura. Em 2001 tinha 9665 habitantes e actualmente chega aos 12 mil.


Candidatos defendem revisão do Parque Natural e do PDM

Os três candidatos à freguesia de São João das Lampas identificam dois entraves ao desenvolvimento da freguesia: o Parque Natural Sintra-Cascais e o Plano Director Municipal.

Na recta final do ciclo de debates promovido pela Rádio Clube de Sintra, Rádio Ocidente e Jornal de Sintra, os candidatos à Assembleia de Freguesia de São João das Lampas discutiram as propostas que os aproximam e separam. Duas delas são comuns às três candidaturas, nomeadamente a revisão do Plano Director Municipal (PDM) e do Plano de Ordenamento do Parque Natural Sintra-Cascais (PNSC). Para o candidato do PS, Manuel Carioca, a própria classificação ambiental devia ser revista. “Que é zona protegida, estamos de acordo, mas não lhe chamaríamos Parque em toda a sua extensão, porque em nosso entender não tem essa característica em certas zonas”, diz. Quanto ao PDM, “constrange algumas localidades, mas não é totalmente impeditivo”, admite o socialista, aproveitando para reconhecer o trabalho feito pelo actual presidente Miguel Portelinha, que não se recandidata.

O cabeça de lista da Coligação Mais Sintra (PSD/CDS/PPM/ MPT) concorda, mas diz que o próximo executivo “não pode usar esta realidade como desculpa”. “As pessoas culpam o Parque mas também dizem que se desistiu do diálogo. Dizem que não podem arranjar um caminho ou um muro, nem fazer uma casa, mas eu quero saber se é o Parque o culpado de tudo e se for eleito quero ir falar com eles cara a cara”, avança Guilherme Ponce de Leão.

Já a CDU considera fundamental a aposta na revisão do PDM, embora também aponte baterias ao PNSC. “Sei por experiência própria como é, porque a certa altura quis abrir um caminho para um terreno que queria cultivar e o Parque opôs-se porque alterava a estética do terreno. Mas hoje tenho dois mamarrachos ao lado, que mais parecem bunkers com piscinas, e se quiser lá construir um arrumo não posso”, lamenta Domingos Vicente.

O candidato da CDU queixa-se também de haver dois pesos na gestão do PNSC. “Se houver influência consegue-se fazer tudo, mas se for um morador, um proprietário pequeno, que quer continuar a amanhar o terreno, não pode”, afirma, revelando outro episódio. “Estava a limpar um acesso a uma vinha e tive de arrancar um zambujeiro que estava no meio do caminho. Vieram logo duas pessoas chatear-me, mas agarrei num pau e corri atrás delas”, revela.

Ponce de Leão lamenta que “os filhos da terra tenham de sair e ir viver para a Cavaleira, Queluz ou Amadora, porque os pais têm terrenos mas não podem fazer casas para os filhos.” Já Manuel Carioca considera fundamental resolver as carências da freguesia a nível de implementação industrial, habitacional e particularmente turística. “O turismo é uma das grandes possibilidades, porque temos 10 quilómetros e meio de costa com uma riqueza enorme a ser explorada e é por aí que bateremos com todas as nossas forças, como temos feito até agora”, avança.

No entanto, a CDU alerta para os perigos. “Têm-se feito barbaridades na orla costeira e o Parque Natural não faz nada. Na Vigia chegou a haver uma escada que ruiu logo e hoje chegam a ir de helicóptero para essa praia, que não tem um acesso em condições.” A Coligação Mais Sintra também aponta problemas e convida a comunicação social a conhecer a realidade. “Sugiro uma visita porque não acredito que alguém de bom senso possa concordar com a degradação que se está a passar”, denuncia.

Já os socialistas, há 12 anos no executivo, recusam assumir responsabilidades. “Se quiser ser honesto, não pode fazer afirmações a responsabilizar a Junta, porque não temos competência para entrar em certas áreas. Por exemplo, o Parque tem uma nova responsável já há algum tempo que ainda não deu notícias a ninguém, nem quer dialogar connosco”, lamenta Manuel Carioca, membro do actual executivo.

No entanto, Ponce de Leão defende mais persistência e o “diálogo até à morte para resolver os problemas”. Para o candidato, “há que lutar e falar com o Parque, abordando-o de outra forma para não criar um inimigo”. E se este não dialogar, fazer a denúncia pública. “Eu denuncio e se for preciso vou ao ICNB e ao fim do mundo porque o Parque tem de dizer se é normal estar tudo abandalhado. Têm que me ouvir e se for preciso levo a comunicação social atrás”, ameaça.

Quanto às propostas para melhorar a situação, o PS defende a limpeza de caminhos e trilhos rurais e a criação de ciclovias na orla costeira, “uma promessa de há oito anos da Câmara.” Devem também ser criadas “estruturas de apoio e parques de lazer”. A proposta colhe o apoio da CDU que sugere ainda a criação de circuitos de manutenção e a resolução do problema das moto-quatro com a delimitação de espaços próprios para esta prática. Mas Ponce de Leão discorda das ciclovias junto ao mar. “É uma zona muito perigosa e temos de ter cuidado”, alerta.

Os socialistas querem também a melhoria das acessibilidades, sobretudo com a construção da estrada da Tojeira à Catribana e dizem que “os males de uma freguesia de 12 mil habitantes não se resumem ao Parque.” A CDU dá o exemplo de um terreno da Câmara que está transformado em vazadouro de lixo. “O terreno foi adquirido para um parque de campismo, ainda no tempo do presidente Rui Silva”, revela Domingos Vicente. Mas Ponce de Leão aproveita a dica e anuncia que quer ali fazer “um eco-parque de campismo para auto caravanas”, um tipo de estrutura que não existe no concelho.

Outras propostas passam pela aposta na acção social e pela identificação das situações de pobreza e pela realização de rastreios de saúde. O PS, além da acção social propõe acabar os arruamentos e o saneamento básico, dar continuidade às obras do cemitério e insistir na recuperação da ponte e da calçada romana em Catribana. A CDU concorda e adiciona a manutenção dos parques de merendas, onde faltam sanitários, e a criação de espaços onde os pequenos produtores agrícolas possam vender e escoar os seus produtos.

«Vou estar com dedicação total 365 dias por ano, 24 horas por dia, com o telefone ligado para atender os fregueses» Guilherme Ponce de Leão, Coligação Mais Sintra



«Nem vale a pena dizer que estarei 365 dias, porque estou cá há muitos anos e as pessoas sabem disso» Manuel Carioca, PS



«Apelo a todos que façamos o melhor possível pela freguesia e estou disposto a trabalhar seja com quem for» Domingos Vicente, CDU


texto e fotos: Luís Galrão