Tapada das Mercês/Algueirão - Mem Martins



Procissão de N.ª Sra. das Mercês movimenta a Feira


Realizou-se no dia 25 de Outubro a tradicional procissão em honra de N.ª Sra. das Mercês, que junta à Feira das Mercês um carácter religioso. O cortejo, que se efectua há 238 anos, é considerado o dia mais movimentado da Feira.


O tempo cinzento e o piso inclinado que levam à capela não afastaram as inúmeras pessoas que, muito antes da missa começar, já se encontravam no local e nos arredores, por onde passaria mais tarde a procissão com a tão esperada imagem da padroeira. A missa começou e a pequena capela, com sinais visíveis de degradação, encheu-se de fiéis que transbordaram para as imediações. Já há algum tempo que assim tem sido, pelo que foram instaladas colunas nas janelas do edifício, para que toda a gente pudesse ouvir a celebração.

Entretanto, ao longo da pequena colina que antecede a capela, várias pessoas se reuniam à espera, junto a vários carros que foram sendo estacionados ao sabor do espaço que houvesse. Também a banda da Associação Recreativa Musical de Carcavelos se preparava para acompanhar as imagens dos santos que, entretanto, eram preparadas para ser saudados pelas pessoas.

As pessoas aguardavam a procissão



Uma procissão com mais de dois séculos
De acordo com Alfredo Costa, presidente da Associação de Solidariedade Social das Mercês (ASSM), que organiza a Feira, a procissão em honra de N.ª Sra. das Mercês “é uma tradição que se realiza há 238 anos!”.

De facto, a feira, que é montada na segunda quinzena de Outubro num terreno baldio entre o Algueirão e a Rinchoa “tem um historial muito grande”, já que existe desde o tempo da ocupação dos árabes, tendo inclusive servido para comercializar escravos.

Já nessa altura, segundo reza a história, se faziam romarias em honra de N.ª Sra. das Mercês numa gruta com uma ermida. Contudo mais tarde, o Marquês de Pombal mandou construir um solar junto ao local em 1765 e junto ao solar mandou edificar uma capela em honra de N.ª Sra. “Nesse tempo não era como é hoje, havia menos pessoas”, explicou Alfredo Costa.

De facto, a missa atrai centenas de pessoas, a maior parte das quais não consegue assistir de perto à celebração, que depois seguem as imagens de Santo António, levado por raparigas solteiras, de S. Sebastião, da Sagrada Família e por fim, de N.ª Sra. das Mercês pelas ruas.

A procissão do dia 25 de Outubro não foi excepção e chegou a desviar algumas das gentes que se dirigiam à feira, que seguiram com o cortejo religioso. “Esta feira insere o profano e o religioso e dentro deste âmbito as pessoas vêm à feira e como são crentes, vêm à missa também”, explicou Alfredo Costa. Muitos dos que acompanham a procissão desconhecem, no entanto, a origem da tradição. O que se sabe, segundo contou José Pedro Filipe, um dos elementos da Comissão de Festas do Algueirão, pertencente à Paróquia e responsável pela organização da vertente religiosa, é que no tempo dos muçulmanos, os cristãos eram obrigados a esconder as imagens dos santos que veneravam, sob pena de serem punidos, e uma das formas para o fazer era enterrar as imagens. Ora, junto ao muro que hoje em dia é adjacente à capela, foi descoberta uma imagem de N.ª Sra. das Mercês, intacta, que actualmente mobiliza pessoas de muitas localidades do concelho.

José Pedro Filipe garante, contudo, que desde que conhece as tradições, “há mais de 60 anos”, que o número de participantes tem vindo a diminuir. Uma das razões é o facto de que “há uma grande tendência a acabar com isto” e de que as tradições se têm vindo a perder. “Nós, comissão, vamos fazer de tudo para que isto não acabe”.

Apesar de tudo, Alfredo Costa, da organização da Feira, ressalta que “se a Feira das Mercês tem cá muita gente, nos anos que já passaram e possivelmente nos outros que hãode vir, o dia da procissão é o dia que tem mais”.


Imagem de Santo António



Imagem de S. Sebastião



Imagem da Sagrada Família



Imagem de N.ª Sra. das Mercês


Última actividade cultural da Feira
Realiza-se amanhã, dia 31, a última actividade inserida na Feira das Mercês, pelas 15.30h – a actuação do Rancho Folclórico dos Recreios da Venda Seca. A Feira encerra no dia 1 de Novembro.

texto e fotos: Vanessa Sena Sousa






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