Colares

Moradores e ambientalistas temem abate
de ex-líbris de Colares


A empresa Estradas de Portugal garante que só irá abater árvores em último recurso, mas a hipótese de destruição de plátanos centenários preocupa a vila de Colares.

A marcação, há uma semana, de 17 plátanos junto à adega regional de Colares, está a preocupar moradores e ambientalistas, que temem o abate das árvores. “Vieram pintá-los de vermelho na terça-feira e até fiquei com o coração aos pulos, porque estes plátanos centenários são o ex-líbris da zona e a razão pela qual a adega foi aqui construída na década de 30 do século passado, para usufruir da sombra”, conta uma comerciante residente na localidade.

As árvores com dezenas de metros de altura estão alinhadas entre a linha de eléctrico e a Alameda Coronel Linhares de Lima, um troço da Estrada Nacional 375. “Há dois plátanos que estão diferentes desde que sofreram um desbaste brutal há uns quatro ou cinco anos e desde então perdemos parte da sombra. Depois houve apenas uma poda ligeira e há dois anos abateram uma árvore, alegadamente porque estava seca. É por isso que agora tememos o pior”, acrescenta a moradora.

O assunto está a ser acompanhado por vários blogues, como o Rio das Maçãs (http:/ /riodasmacas.blogspot.com), e também preocupa o Movimento Cívico em Defesa do Parque Natural Sintra-Cascais, que diz ter sido informado que “a Estradas de Portugal (EP) se prepara para abater de um número indeterminado de árvores”. O Movimento composto pelas associações Quercus, Liga para a Protecção da Natureza e Olho Vivo considera que a medida “constituiria um prejuízo ambiental e paisagístico irreparável” e que, a verificar-se, “contará com a veemente oposição das associações por todos os meios ao respectivo alcance”, lê-se num ofício enviado esta semana à empresa.

Em declarações ao Jornal de Sintra, o presidente da Junta de Colares diz estar a par da situação e preparado para tranquilizar os fregueses. “Fui o primeiro a ligar para a EP para saber o que se passava. Explicaram-me que vão podar as árvores e depois radiografá-las, porque suspeitam que possam estar doentes como uma que abateram aqui perto da Junta e que estava oca”, conta Rui Santos. Se for esse o caso, diz, “alguns plátanos terão de ser abatidos antes que aconteça alguma desgraça”.

O autarca recorda que Junta tem vindo a defender a necessidade de podar as árvores, sobretudo depois de dois acidentes com camiões que transportavam contentores, em 2008, ambos sem vítimas. “Já tínhamos solicitado uma intervenção à EP, porque todos os plátanos precisam de ser podados desde a entrada na freguesia até Almoçageme, porque já houve acidentes e os camionistas queixam-se que têm de andar no meio da estrada porque os troncos rasgam as lonas dos semi-reboques”, afirma.

No entanto, Rui Santos salienta que qualquer árvore abatida deverá ser imediatamente substituída, um argumento que não tranquiliza os moradores. “Um tronco ou outro talvez se justifique cortar, mas se abaterem os plátanos perdemos esta beleza, porque uma árvore nova vai precisar de décadas para atingir este porte”, alerta uma moradora.

EP garante que plátanos só serão abatidos em último recurso

A Estradas de Portugal (EP) garante que os plátanos marcados só serão abatidos “em última e derradeira instância”. “Está prevista apenas a poda e só será realizada outra intervenção se o diagnóstico de solidez vier a demonstrar que as árvores apresentam ‘deficiências’ estruturais’”, explica a empresa. Segundo Paula Chaves, “os 17 plátanos serão alvo de um ensaio de diagnóstico de solidez dos troncos e pernadas por meio de resistógrafo, de modo a avaliar a existência de um eventual risco de queda”.

A directora de comunicação da EP justifica que “em ocasiões de intempérie os grandes plátanos já provocaram danos a utentes da via, na maioria veículos estacionados, a que a EP respondeu com o pagamento das indemnizações apuradas.” Esta responsável avança que “na eventualidade de ser necessário o abate de alguma destas árvores, a EP irá avaliar a possibilidade de se proceder à sua substituição.”

A empresa informa ainda que está em curso uma operação mais vasta “de poda e abate de algumas árvores, no âmbito da segurança e manutenção em todas as estradas da rede a cargo da EP na Serra de Sintra” (cerca de 35 quilómetros). A acção iniciada em Outubro e em curso até ao final do ano deverá abranger 572 árvores de grande porte que serão “podadas, alvo de tratamento fitossanitário ou, no limite, abatidas”. Neste período “não está previsto nenhum condicionamento de estrada por tempo e data marcantes, a não ser a inibição de uma das vias junto aos locais a intervir e apenas temporariamente”.


Texto e fotos: Luís Galrão

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