O “Caim” de José Saramago apresentado
na Culturgest em Lisboa
José Saramago apresentou o seu “Caim” na Culturgest, em Lisboa. E, como se esperava, não fugiu da polémica que já se tinha gerado em torno do livro.
Teve lugar na última sexta-feira, no anfiteatro da Culturgest, em Lisboa, mais uma apresentação do livro Caim, de José Saramago. O autor esteve presente, recém-saído da controvérsia que tem rodeado o livro, e as suas primeiras palavras foram exactamente nesse sentido: “Não procurem os hematomas, tenho a pele bastante dura.”
E acrescentou que “não pedi nada disto (…) mas muita gente me pergunta por que não deixo as personagens bíblicas e trato de assuntos actuais?”. A resposta deu-a o próprio Saramago: “Ingenuamente, depois de tantos anos de democracia, acreditei que podia escrever sobre tudo. Incluindo a Bíblia, de que, segundo me consta, se venderam agora uns exemplares a mais… Mas fui ingénuo porque tomei à letra o que na letra estava, quando parece que há uma leitura literal e outra simbólica. Já no ‘Memorial do Convento’, a certo passo, escrevi que ‘Deus é medonho’ – e que o digam os calcinados de Sodoma. E é por causa desse episódio que eu digo que Deus não é de fiar: porque prometeu e não cumpriu. Prometeu que se houvesse 10 inocentes não arrasaria a cidade. E arrasou-a, esquecendo as crianças que seriam bem mais de 10 e às quais não se poderiam atribuir, com certeza, os crimes contra-natura dos pais.” E aos muitos que lhe perguntam por que escreve sobre temas religiosos, sendo ateu, Saramago respondeu: “Caim é um velho conhecido meu, de muitas décadas. Impressionou-me a história dos dois irmãos, desde a primeira vez que a li ficou-me cá dentro. Para mais, está na Bíblia e a Bíblia sabe o que diz.”
Segundo as suas próprias palavras, “o livro é pequeno mas denso. Considero ‘Caim’ do melhor que eu escrevi: como se tivesse havido um desabamento de terras e coisas (entre elas a linguagem, o vocabulário que utilizo) tivessem surgido à superfície”.
Não deixou passar em claro aqueles que dizem que não tem estudos, que não foi à universidade: “É verdade, não fui à universidade. Mas sou Nobel da Literatura, ao contrário de muitos que lá foram e não se nota.”
Deixou, a finalizar, uma pista para o novo livro que já está a escrever: “Várias vezes me tenho interrogado por que razão nunca houve uma greve numa fábrica de armas? Gostaria de lhe chamar ‘Livro do Desassossego, mas o Fernando Pessoa antecipou-se…”
António Pessoa
na Culturgest em Lisboa
José Saramago apresentou o seu “Caim” na Culturgest, em Lisboa. E, como se esperava, não fugiu da polémica que já se tinha gerado em torno do livro.
Teve lugar na última sexta-feira, no anfiteatro da Culturgest, em Lisboa, mais uma apresentação do livro Caim, de José Saramago. O autor esteve presente, recém-saído da controvérsia que tem rodeado o livro, e as suas primeiras palavras foram exactamente nesse sentido: “Não procurem os hematomas, tenho a pele bastante dura.”
E acrescentou que “não pedi nada disto (…) mas muita gente me pergunta por que não deixo as personagens bíblicas e trato de assuntos actuais?”. A resposta deu-a o próprio Saramago: “Ingenuamente, depois de tantos anos de democracia, acreditei que podia escrever sobre tudo. Incluindo a Bíblia, de que, segundo me consta, se venderam agora uns exemplares a mais… Mas fui ingénuo porque tomei à letra o que na letra estava, quando parece que há uma leitura literal e outra simbólica. Já no ‘Memorial do Convento’, a certo passo, escrevi que ‘Deus é medonho’ – e que o digam os calcinados de Sodoma. E é por causa desse episódio que eu digo que Deus não é de fiar: porque prometeu e não cumpriu. Prometeu que se houvesse 10 inocentes não arrasaria a cidade. E arrasou-a, esquecendo as crianças que seriam bem mais de 10 e às quais não se poderiam atribuir, com certeza, os crimes contra-natura dos pais.” E aos muitos que lhe perguntam por que escreve sobre temas religiosos, sendo ateu, Saramago respondeu: “Caim é um velho conhecido meu, de muitas décadas. Impressionou-me a história dos dois irmãos, desde a primeira vez que a li ficou-me cá dentro. Para mais, está na Bíblia e a Bíblia sabe o que diz.”
Segundo as suas próprias palavras, “o livro é pequeno mas denso. Considero ‘Caim’ do melhor que eu escrevi: como se tivesse havido um desabamento de terras e coisas (entre elas a linguagem, o vocabulário que utilizo) tivessem surgido à superfície”.
Não deixou passar em claro aqueles que dizem que não tem estudos, que não foi à universidade: “É verdade, não fui à universidade. Mas sou Nobel da Literatura, ao contrário de muitos que lá foram e não se nota.”
Deixou, a finalizar, uma pista para o novo livro que já está a escrever: “Várias vezes me tenho interrogado por que razão nunca houve uma greve numa fábrica de armas? Gostaria de lhe chamar ‘Livro do Desassossego, mas o Fernando Pessoa antecipou-se…”
António Pessoa
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