Os acidentes de viação são uma preocupação crescente por parte da Organização Mundial de Saúde. De facto, este é um problema de saúde pública, que não escolhe faixas etárias ou estatutos sociais. Sintra é o concelho do distrito de Lisboa com mais mortes na estrada, de acordo com números do ano passado. A propósito da segurança rodoviária, realizou-se a 19 e 20 do corrente uma conferência mundial em Moscovo, na Rússia.
S intra é o concelho do distrito de Lisboa com mais mortes devido a acidentes de estrada no ano passado – 17 indivíduos -, como demonstram as estatísticas da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária. De facto, analisando os dados relativos aos concelhos limítrofes, podemos concluir que Loures fica próximo de Sintra não apenas geograficamente mas no que toca a esta dura realidade, com 14 mortes na estrada. Já Oeiras apresenta quatro mortes, Mafra apresenta seis, Cascais cinco e Amadora quatro.
Os números que nos dão conta sobre os feridos graves devido a acidentes rodoviários escondem, no entanto, uma problemática que, aliada àqueles que perderam os entes queridos nas estradas e permanecem até ao fim das suas vidas em luto, é uma das preocupações da Organização Mundial de Saúde (OMS): “Estima-se que, anualmente e em todo o mundo, cerca de 1,2 milhões de pessoas morrem e 50 milhões são feridas em consequência de acidentes de viação”, refere a OMS em comunicado, indicando também que as previsões indicam que os números aumentem em 65% nos próximos 20 anos.
O número de feridos abrange aqueles que ficaram com mazelas físicas e, muitas vezes, consequentemente psicológicas, apesar de esta última vertente ser de difícil análise. Logo a seguir ao município de Lisboa, com 132 indivíduos que ficaram gravemente feridos em resultado de acidentes de viação, Sintra é o concelho que apresenta um maior número, com 44 indivíduos.
Apesar de ser difícil averiguar quantos destes indivíduos ficaram com deficiências físicas que dificultam ou incapacitam as actividades diárias consideradas normais, os números da Associação Portuguesa de Deficientes apontam para um universo considerável de deficientes que assim ficaram devido a acidentes na estrada: 1524 indivíduos associados, de todo o país, de um total de 24 mil e 73 no concelho de Sintra. Este número reporta-se apenas aos indivíduos que se foram associando a esta organização ao longo do tempo, sendo que existem outros que procuraram, ou não, outros tipos de apoio.
Conferência mundial sobre prevenção e segurança rodoviária
A Conferência Mundial Inter- Ministerial Sobre Segurança Rodoviária que se realizou em Moscovo, na Rússia, foi um “acontecimento histórico”, de acordo com fonte da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) que, como representante nacional, fez parte dos 1500 participantes que, nos dias 19 e 20 do corrente, discutiram ao mais alto nível e com o apoio da ONU, “os mais significativos problemas de prevenção e segurança rodoviária a nível nacional”.
Da Conferência resultou a Declaração de Moscovo que alerta para a necessidade de urgência nas resoluções em matéria de prevenção. Os estados “foram encorajados a participar activamente no desenvolvimento da segurança rodoviária a nível global”. Para isso foram identificados os factores de risco e as áreas prioritárias de actuação a nível global.
No que toca ao nosso país, de acordo com a ANSR, “as medidas que têm vindo a ser tomadas têm seguido as boas práticas internacionais e procuram corresponder ao que as organizações internacionais recomendam”. Exemplo disso é o facto de o país “seguir um plano de segurança rodoviária adaptado à sua realidade”, com “objectivos quantificados, mensuráveis e auditáveis, como se fez relativamente à Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária”.
Números actuais indicam um decréscimo
Apesar de o número de acidentes com vítimas ter aumentado de 2007 para 2008, com mais acidentes, o número de mortes diminuiu, com menos 5, assim como o número de feridos graves, com menos 6. Os dados de todo o distrito apontam também para um decréscimo, já que em 2008 registaram-se menos 221 acidentes, menos 12 mortos e menos 83 feridos graves do que em 2007.
As informações deste ano, de 1 a 7 de Novembro, revelam a mesma tendência, com um registo de menos 18 mortos e menos 51 feridos graves face ao período homólogo em 2008 em todo o distrito.
Âncoras de Apoio
Conviver com a morte de alguém querido que foi vítima de um acidente de viação nem sempre se consegue fazer em solidão. A Estrada Viva – Liga Contra o Trauma, tem fornecido diversos tipos de apoio tanto no que toca à prevenção e sensibilização para a problemática das mortes na estrada, como no que toca a famílias que ficaram desamparadas devido à perda de um ente querido. Das várias associações agregadas, a A Nossa Âncora, sedeada em Sintra há 14 anos, é a que mais tem apoiado o luto, sempre sofrido, de pais, avós, irmãos, entre outros, “ajudando- os a entender a sua imensa dor, de forma a não se fecharem em si mesmos, envoltos em tristeza, revolta ou descrença e consigam encontrar novos estímulos nas suas vidas”, como explicou a presidente da associação, Emília Agostinho.
O apoio é dado sob a forma de atendimento individual, conversas telefónicas, por email ou por carta, um fórum na internet, vários grupos de entreajuda espalhados por todo o país, edição de livros alusivos ao tema, apoio psicológico, sociológico e jurídico – em parceria com a associação “Olhar” – para a prevenção e apoio mental, e pontualmente proporcionam algumas terapias ocupacionais*.
Os traumas psicológicos, dos que estão em luto e mesmo daqueles que foram responsáveis por acidentes de viação, são uma das principais preocupações da associação. Nas palavras de Emília Agostinho, também em luto pela perda do marido e do filho num acidente de viação: “damos um enorme contributo para a saúde mental no nosso país pois, através da nossa ajuda, temos feito com que o número de baixas, absentismo e reformas antecipadas tenham diminuído, já para não falar do número de pessoas que deixam de pensar no suicídio”.
A associação apoia, no concelho de Sintra, 38 famílias em consequência da morte dos filhos na estrada e 61 famílias por outras razões.
*A Nossa Âncora
Rua Dr. Almada Guerra, nº 25 - 2710-417 Sintra
Telf. geral: 21 910 57 55
Atendimento Pais: 21 910 57 50
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