depois do Cântico dos Melros
O escritor sintrense, Augusto Carlos, enveredou pela escrita aos 45 anos, tendo publicado a sua primeira obra aos 50. Hoje, com dez livros escritos em cinco anos, prepara-se para lançar, no dia 11 do corrente, pelas 18.30h, no Centro Carlos Paredes (S. Marcos) o seu livro mais recente: Contos da Natureza.
Nascido em Moçambique, o autor revela- nos, em entrevista, que desde muito cedo que foi tentando compreender mundo que o rodeava e ganhando o gosto pela escrita. A vertente filosófica e a reflexão sobre o ser humano e a sociedade estão bem presentes na sua obra e o seu talento literário tornou um dos seus livros, O Flamingo da Asa Quebrada, como uma das obras integrantes do Plano Nacional de Leitura Ler+.
Para compreender o ponto de vista deste escritor, o JS leu a sua obra anterior, O Cântico dos Melros e colocou ao escritor algumas questões.
Jornal de Sintra – Como é que, sendo formado em engenharia, enveredou pela filosofia?
Augusto Carlos – Desde muito cedo senti crescer em mim o gosto por histórias, bem como a necessidade de conhecer as minhas coordenadas no mundo. Pertencendo eu a uma família com limitados recursos económicos, a engenharia foi o meio que encontrei para alcançar os fins que a minha condição exigia. A filosofia já faz parte do meu caminho de busca.
JS – É a filosofia um escape ou uma forma de viver?
AC – A filosofia é, para mim, uma ferramenta que me facilita a busca de coordenadas que acima aludi. Portanto, sinto a filosofia como uma forma de viver.
JS – Por que é que se lançouna escrita aos 50 anos? Alguma razão em especial?
AC – Comecei a escrever aos 45 anos, embora só tivesse começado a publicar ao 50. A razão por que o fiz tão tarde tem a ver com o acervo de respostas que a vida me foi facultando e que senti necessidade de compartilhar.
JS – O que é que podemos distinguir de si nesta obra? [O Cântico dos Melros]
AC – Poderei dizer que a minha obra reflecte a experiência de vida de um homem que pretendeu, e pretende, viver atento ao quotidiano.
JS – Como foi que lhe surgiu a ideia para este livro?
AC – A ideia para este livro surgiu, precisamente, da minha observação das sociedades actuais. Sociedades que incentivam o indivíduo à competição desmesurada, à falta de ética e a não se saber colocar na posição do outro.
JS – Qual a simbologia do melro? Por que não outra ave?
AC – Escolhi o melro apenas porque enquanto escrevia, durante madrugadas primaveris, os melros me foram acompanhando e contemplando com os seus cantares inebriantes até à comoção.
JS – Por que razão considera o Homem um animal de hábitos? Hábitos para si são rotinas ou costumes?
AC – Quando digo que o Homem é um animal de hábitos, estou a querer dizer que lhe é fácil entrar em rotinas que lhe coarctam a criatividade. Para mim, os costumes são outra coisa. Têm a ver com o aspecto cultural.
JS – Qual das teorias de que fala no livro defende: a de que o Homem é uma obra completa ou a de que o Homem está em evolução?
AC – Decididamente, a de que o Homem está em evolução.
JS – O que pode ser feito para que o Mundo saia desta «moléstia»?
AC – A meu ver, para que o Mundo saia desta “moléstia” é urgente que, cada vez mais, um maior número de indivíduos comece a pensar por si. É urgente que nos comecemos a questionar e não sigamos, de ânimo leve, o que já está pensado e que, diariamente, nos é servido em bandejas, pronto a consumir.
JS – Rui é a personagem que primeiro se apercebe do que está mal no mundo. Quem é que, para si, poderia representar o Rui no nosso país/ mundo?
AC – É difícil afirmar quem poderá representar o Rui nos dias de hoje, sem ser injusto para com alguém, pois eles jásão muitos... São todos aqueles que procuram conhecer o sentido da vida, o que é o Homem, como a Natureza interage com ele... Em resumo, que procuram as tais coordenadas que me preocupam desde a infância.
JS – O que mais, para além da criatividade, tem vindo a ser prejudicado com a «moléstia»? Até que ponto?
AC – Bem, a “moléstia” tem feito com que grande parte da Humanidade, confundida, troque os meios pelos fins. Deste modo, tem colocado o dinheiro como um fim em si mesmo, em vez de um meio ao serviço do Homem. E, a meu ver, esta atitude é a causa do grande sofrimento por que hoje passam tanto os mais abastados como os mais desafortunados, todos. É a causa da grande falta de amor no Mundo.
JS – Acredita que a Humanidade pode despertar deste adormecimento que a impede de ver os problemas que expôs na sua obra?
AC – Perfeitamente. Acredito que, estando a Humanidade em evolução, a fase que hoje atravessamos faz parte de um processo de aprendizagem que, inevitavelmente, nos conduzirá a tornarmo-nos seres verdadeiramente mais humanos. Acredito que, para o Homem, a Natureza tem projectos altruístas. E que, enquanto estamos em formação, ela vai sendo paciente, encaminhando-nos...
VSS
Fonte: Nova Vaga
O escritor sintrense, Augusto Carlos, enveredou pela escrita aos 45 anos, tendo publicado a sua primeira obra aos 50. Hoje, com dez livros escritos em cinco anos, prepara-se para lançar, no dia 11 do corrente, pelas 18.30h, no Centro Carlos Paredes (S. Marcos) o seu livro mais recente: Contos da Natureza.
Nascido em Moçambique, o autor revela- nos, em entrevista, que desde muito cedo que foi tentando compreender mundo que o rodeava e ganhando o gosto pela escrita. A vertente filosófica e a reflexão sobre o ser humano e a sociedade estão bem presentes na sua obra e o seu talento literário tornou um dos seus livros, O Flamingo da Asa Quebrada, como uma das obras integrantes do Plano Nacional de Leitura Ler+.
Para compreender o ponto de vista deste escritor, o JS leu a sua obra anterior, O Cântico dos Melros e colocou ao escritor algumas questões.
Jornal de Sintra – Como é que, sendo formado em engenharia, enveredou pela filosofia?
Augusto Carlos – Desde muito cedo senti crescer em mim o gosto por histórias, bem como a necessidade de conhecer as minhas coordenadas no mundo. Pertencendo eu a uma família com limitados recursos económicos, a engenharia foi o meio que encontrei para alcançar os fins que a minha condição exigia. A filosofia já faz parte do meu caminho de busca.
JS – É a filosofia um escape ou uma forma de viver?
AC – A filosofia é, para mim, uma ferramenta que me facilita a busca de coordenadas que acima aludi. Portanto, sinto a filosofia como uma forma de viver.
JS – Por que é que se lançouna escrita aos 50 anos? Alguma razão em especial?
AC – Comecei a escrever aos 45 anos, embora só tivesse começado a publicar ao 50. A razão por que o fiz tão tarde tem a ver com o acervo de respostas que a vida me foi facultando e que senti necessidade de compartilhar.
JS – O que é que podemos distinguir de si nesta obra? [O Cântico dos Melros]
AC – Poderei dizer que a minha obra reflecte a experiência de vida de um homem que pretendeu, e pretende, viver atento ao quotidiano.
JS – Como foi que lhe surgiu a ideia para este livro?
AC – A ideia para este livro surgiu, precisamente, da minha observação das sociedades actuais. Sociedades que incentivam o indivíduo à competição desmesurada, à falta de ética e a não se saber colocar na posição do outro.
JS – Qual a simbologia do melro? Por que não outra ave?
AC – Escolhi o melro apenas porque enquanto escrevia, durante madrugadas primaveris, os melros me foram acompanhando e contemplando com os seus cantares inebriantes até à comoção.
JS – Por que razão considera o Homem um animal de hábitos? Hábitos para si são rotinas ou costumes?
AC – Quando digo que o Homem é um animal de hábitos, estou a querer dizer que lhe é fácil entrar em rotinas que lhe coarctam a criatividade. Para mim, os costumes são outra coisa. Têm a ver com o aspecto cultural.
JS – Qual das teorias de que fala no livro defende: a de que o Homem é uma obra completa ou a de que o Homem está em evolução?
AC – Decididamente, a de que o Homem está em evolução.
JS – O que pode ser feito para que o Mundo saia desta «moléstia»?
AC – A meu ver, para que o Mundo saia desta “moléstia” é urgente que, cada vez mais, um maior número de indivíduos comece a pensar por si. É urgente que nos comecemos a questionar e não sigamos, de ânimo leve, o que já está pensado e que, diariamente, nos é servido em bandejas, pronto a consumir.
JS – Rui é a personagem que primeiro se apercebe do que está mal no mundo. Quem é que, para si, poderia representar o Rui no nosso país/ mundo?
AC – É difícil afirmar quem poderá representar o Rui nos dias de hoje, sem ser injusto para com alguém, pois eles jásão muitos... São todos aqueles que procuram conhecer o sentido da vida, o que é o Homem, como a Natureza interage com ele... Em resumo, que procuram as tais coordenadas que me preocupam desde a infância.
JS – O que mais, para além da criatividade, tem vindo a ser prejudicado com a «moléstia»? Até que ponto?
AC – Bem, a “moléstia” tem feito com que grande parte da Humanidade, confundida, troque os meios pelos fins. Deste modo, tem colocado o dinheiro como um fim em si mesmo, em vez de um meio ao serviço do Homem. E, a meu ver, esta atitude é a causa do grande sofrimento por que hoje passam tanto os mais abastados como os mais desafortunados, todos. É a causa da grande falta de amor no Mundo.
JS – Acredita que a Humanidade pode despertar deste adormecimento que a impede de ver os problemas que expôs na sua obra?
AC – Perfeitamente. Acredito que, estando a Humanidade em evolução, a fase que hoje atravessamos faz parte de um processo de aprendizagem que, inevitavelmente, nos conduzirá a tornarmo-nos seres verdadeiramente mais humanos. Acredito que, para o Homem, a Natureza tem projectos altruístas. E que, enquanto estamos em formação, ela vai sendo paciente, encaminhando-nos...
VSS
Fonte: Nova Vaga
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